Lucila's Success Story - Portuguese version

Eu sou Brasileira, mas estava morando na Austrália, quando meu marido e eu soubemos da minha gravidez de gêmeos. Eu tinha 35 anos. Ambos nos sentimos tão especiais com a chance de ter uma “família instantânea”! Infelizmente, na 17 semana de gravidez nós descobrimos que nossos bebês eram um caso severo de Twin to Twin Transfusion Sindrome – uma doença rara que afeta alguns casos de gêmeos idênticos. Depois de consultar médicos e considerar as possíveis implicações para os nossos bebês, nós decidimos interromper a gravidez. Como a gravidez estava já no Segundo Trimestre, nós optamos por induzir o parto de modo que poderíamos ver e dizer adeus aos nossos meninos. Eles nasceram às 8:00 pm do dia 5 de Janeiro de 2002.

Apesar de ser considerada uma gravidez de risco (por estar esperando gêmeos) eu não tive a chance de ver o Especialista do Hospital encarregado pelo setor de Gravidez de Risco, em nenhuma de minhas consultas. O parto dos gêmeos foi também induzido por uma das assistentes deste especialista. Depois do parto, a placenta não descolou das paredes do útero. A doutora assistente me aplicou uma injeção para auxiliar o descolamento da placenta, mas nada aconteceu. Na manhã seguinte, a doutora assistente me explicou que havíamos esperado tempo suficiente, mas que agora precisaríamos fazer uma curetagem. Ela efetuou uma curetagem manual. A cirurgia que supostamente era prevista para durar 20 minutos, demorou mais de 1 hora. Ela nos relatou posteriormente, que durante a cirurgia a placenta continuava presa, e quebrou-se em pequenos pedaços, que ela precisou remover 1 por 1. Ela disse que usara um aparelho de ultrasom, para ter certeza de que removera todos os “produtos de concepção”. Eu fui então autorizada a ir para casa, tomando antibióticos. Fui também informada que uma enfermeira me visitaria em minha residência, para certificar- se da minha recuperação.

A enfermeira visitou-me por 5 dias. Embora eu apresentasse uma febre baixa, ela justificou a febre devido ao acúmulo de leite em meus peitos, ligando a febre ao fato de eu não estar obviamente amamentando. Ninguém suspeitou de infecção. No hospital, eu havia recebido informação escrita sobre o que esperar depois de um aborto ou interrupção de gravidez. Os panfletos mencionavam que um certo sangramento era normal por algum tempo, mas quantidades de sangue não eram específicas, nem quanto tempo era “normal” sangrar. Segundo os panfletos, eu deveria suspeitar de infecção se houvesse um odor desagradável, mas este não era o meu caso. Esta fora minha primeira gravidez, e portanto eu não tinha uma experiência prévia para usar como comparação, e embora eu continuasse sangrando, eu pensei que tudo era normal. No entanto, eu comecei a me sentir muito cansada, e a sentir dores como se fossem cólicas menstruais. Depois de duas semanas, o cansaço e as dores estavam se tornando cada vez mais intensos, e um dia, ao ir ao banheiro eu vi um coágulo do tamanho de uma azeitona. Eu então decidi voltar a ver minha médica (General Practioner – GP) que a partir daí requisitou um ultrasom.

Após o exame, a radiologista me aconselhou voltar direto para o hospital. Do consultório ela telefonou para minha médica (GP), que também me aconselhou a ir direto para o hospital. Ambas relataram que havia uma infecção no meu útero. Na recepção do hospital, enquanto eu esperava para ser admitida, fui informada que não haviam leitos disponíveis. O Especialista em Gravidez de Risco, e responsável pelo meu caso, foi contactado e finalmente conversamos por telefone (eu na recepção do hospital e ele na sua ala de atuação no mesmo hospital). Ele me perguntou o que eu preferia fazer, ser admitida na Emergência e esperar até que leitos estivessem disponíveis ou voltar outro dia. Eu estava cansada, com dores, e com medo. Eu disse a ele neste telefonema: “Eu não sou médica, eu não sei avaliar o quão grave é o meu caso, talvez se você pudesse vir até a recepção e dar uma olhada no ultrasom e na carta da radiologista, e quem sabe analisar meu caso… Eu posso apenas relatar que a Radiologista me aconselhou a vir diretamente para o hospital, depois de olhar meu útero, e ela me pareceu preocupada com o meu quadro”. O Especialista concordou em me ver na sala de espera do setor de Emergências. Ele olhou a carta da Radiologista e novamente comunicou-me minhas opções: 1) Eu poderia ser admitida na Emergência, permanecer no hospital pela noite e ser operada pela manhã por uma de suas assistentes. 2) Ou eu poderia ir para casa, esperar por dois dias e voltar na sexta-feira, como Paciente-Dia, e ele poderia então fazer a cirurgia ele mesmo.

Eu decidi que seria melhor que ele fizesse a cirurgia – Eu imaginei que como especialista ele deveria ser mais experiente. Fui para casa e esperei o dia da cirurgia. A cirurgia se chama “ Curetagem Guiada”, já que ele também usou um aparelho de ultrasom. Depois da cirurgia ele disse que eu estava bem, e que eu poderia esperar minha menstruação em 6 semanas Minha menstruação nao voltou. Entre a primeira ou segunda cirurgia meu útero desenvolveu adesões (ou Ashermans), e eu nao havia sido informada desta possibilidade.

Depois de 6 semanas eu voltei a médica (GP) dizendo que minha menstruação nao havia voltado. Eu contei a ela como eu estava preocupada com o aumento de volume de uma estranha secreção gelatinosa, e que eu achava que havia algo errado. Ela disse que eu estava triste por causa da minha grande perda e trauma e que esta era a causa da ausência de minha menstruação. Eu voltei a médica em Fevereiro, Março e Abril. E a cada visita eu ouvi o mesmo diagnóstico. Ela checava o nível dos meus hormônios, conversava sobre a perda dos gêmeos, e me dizia que minha menstruação provavelmente retornaria neste próximo mês. O que nao aconteceu. Na minha ultima consulta eu disse a ela: “Você tem ABSOLUTA certeza de que não há nada que possa ter acontecido de errado durante as cirurgias? Não há nada que possa ter sido danificado no meu utero?” Eu pensei, às vezes a gente precisa pronunciar o óbvio, mesmo que seja apenas senso comum, porque eu estava tão cansada de ouvir que não havia nada de errado comigo além de tristeza. Ela então disse que o que eu tinha era emocional, mas que ela falaria com um ginecologista amigo sobre o meu caso. Dois dias depois ela me telefonou para me comunicar que estava me encaminhando par ver o tal ginecologista. Ela havia conversado com ele, que mencionara eu poderia ter adesões no meu utero. Ela disse que isso era extremamente raro, mas o ginecologista queria checar a possibilidade. Neste mesmo dia eu entrei na internet e pesquisei via Google “adesões e curetagem” e encontrei o site da Yahoo sobre Asherman’s. Eu fiquei tão impressionada com a similaridade entre minha história e a de tantas outras mulheres ao redor do mundo. Eu descobri um novo significado para a palavra “raro”. Eu ouvira que era raro engravidar de gêmeos, raro que gêmeos tivessem TTTS, raro ter Asherman’s. Eu me vi com todos estes “raros”. Eu comprei um bilhete de loteria!

Embora a médica assistente tenha usado o ultrasom durante minha primeira curetagem e também tenha prescrito antibióticos, eu provavelmente tive o que se chama “infecção não aparente” (e apartir daí Asherman’s), por causa dos produtos de concepção deixados em meu utero. Mas durante toda essa experiência, meu marido e eu estávamos tão estressados com a perda dos gêmeos, que não tivemos capacidade para avaliar a situação. Hoje, eu acho esquisito que eu tenha tido que insistir para ver o medico responsável, numa sala de recepção do hospital. Também suspeito que por conta da nossa perda a GP muito rapidamente estava me rotulando “deprimida”, ao invest de tentar investigar as possíveis causas da ausência de menstruação.

Eu ainda voltei ao mesmo hospital para a cirurgia de diagnóstico: Diagnostic Hysteroscopy. No dia da histeroscopia o ginecologista (recomendado pela GP) que supostamente faria minha cirurgia, não apareceu. Aparentemente ele recebera uma chamada de urgência. Somente na entrada da sala de cirurgia, sua assistente se apresenta a mim, e me informa que ela faria a cirurgia. Eu comecei a chorar, e disse que eu não queria mais ser operada. Eu estava tão assustada e com medo de novos erros cirúrgicos. Eu nao queria uma doutora assistente, eu queria um médico graduado e experiente. Eu me sentia tão cansada e sem forças. Mas no final, eu concordei em ir em frente com a histeroscopia, com o compromisso de que a doutora assistente iria só olhar dentro do meu útero, e que ela não tentaria nada mais além de olhar. Foi então, após a cirurgia, que eu recebi pequenas fotos do meu utero cheio de adesões e o diagnóstico oficial de Ashermans.

Meu marido e eu não acreditávamos em tudo o que estava acontecendo conosco. Nós achávamos que este tipo de história só acontecia com os outros, nunca realmente conosco. Mas aconteceu conosco.

Depois da cirurgia eu finalmente cheguei a conclusão de que precisávamos mudar. Mudamos de médicos e de hospital. Através do site da Yahoo sobre Ashermans, eu consegui me informar a respeito da Síndrome e de tratamentos. Contatei um novo médico recomendado por um especialista em Ashermans Alemão. Mandei um email explicando meu caso e ele foi tão atencioso em sua resposta. Voltei a uma última consulta com a GP, já que precisava de uma carta de encaminhamento “oficial” para poder consultar o médico que eu escolhera. E acho que ela estava se sentindo tão culpada por nao ter me diagnosticado corretamente, que ela apenas concordou. Eu imprimi um monte de informação a respeito de Ashermans e dei a ela o endereço eletrônico deste site. Na minha primeira visita ao meu especialista em Ashermans, eu trouxe comigo um caderninho com perguntas a respeito do meu quadro. Eu queria ter certeza que o tratamento proposto era equivalente ao que eu havia lido ser o melhor tratamento para casos de Ashermans. Este médico explicou-me sobre a Síndrome, deu exemplos com desenhos do meu útero, fez um exame com um ultrasom, e conversamos sobre o tratamento. Ele disse que em sua experiência, eu não parecia ser o pior caso encontrado. Mais tarde eu seria diagnosticada com Moderate Ashermans - minhas adesões estavam localizadas na parte posterior do meu útero e bloqueando meu cervix. Ele me alertou que o tratamento de Ashermans era longo e provavelmente involveria mais de uma cirurgia. Em sua experiência de 1 a 6 cirurgias, em média 3. Ele prescreveu-me estrogênio. Quando eu deixei seu consultório eu estava feliz e satisfeita porque sabia que finalmente teria um tratamento adequado.

Minha primeira Operative Hysteroscopy (Operação de Histeroscopia) foi em Julho de 2002. A cirurgia durou apenas 5 minutos pois meu especialista em Ashermans perfurou meu útero. A cirurgia é muito delicada, por conta de que o médico na verdade não vê para aonde deve ir para cortar as adesões. No meu caso, ele foi na direção errada e perfurou a parede da minha cavidade uterina. Quando eu acordei da cirurgia e vi meu marido, eu instantaneamente soube que ele estivera chorando. Ele nao sabia como me contar que haviam ocorrido problemas durante a minha cirurgia. Eu pensei que eu tinha tido muito azar, mas ao mesmo tempo eu me lembrei de haver lido, no site do grupo sobre Ashermans, que perfuração algumas vezes ocorria em cirurgias, mesmo em cirurgias com os melhores especialistas. Eu fui informada que eu deveria esperar 3 meses para meu útero cicatrizar, antes de poder tentar nova cirurgia. Decidi sair de férias e voltei para minha segunda cirurgia em Outubro de 2002. Esta cirurgia foi bem sucedida, o médico conseguiu limpar as adesões do meu útero, mas infelizmente as adesões reapareceram no meu cervix. Eu parei de tomar os hormônios em Novembro, já que meu médico relatou que internamente minha cavidade uterina possuia um bom lining – 7mm. Eu ainda fiz outras cirurgias em Novembro e Dezembro de 2002 mas as adesões continuavam a reaparecer em meu cervix. Meu médico me relatou que a cada nova cirurgia a quantidade de adesões diminuía, no entanto elas continuavam a fechar meu cervix. Em Janeiro de 2003 eu fiz minha 5ª e última cirurgia. Desta vez meu médico usou uma barreira, um spray gel.

Em Janeiro de 2003, pela primeira vez desde Setembro de 2001, eu fiquei novamente menstruada. Fiquei tão feliz e agradecida em estar menstruando novamente. Ainda me lembro daquele tempo em que eu costumava reclamar de ficar menstruada, das cólicas e dos mau humores. Mas quando passei a nao menstruar, eu simplesmente fiquei tão triste. Minha segunda menstruação nao foi tão boa como a primeira, eu estava 1 semana atrazada, e o sangue era muita mais escuro, e a quantidade de sangue muito menor. Mas ainda assim eu considerei “boas novas”, e fiquei definitivamente feliz.

Minha terceira menstruação não aconteceu, porque eu então engravidei novamente. Não acreditei como tínhamos tido sorte. Tínhamos agora uma nova oportunidade para sermos uma familia! Nesta época nos mudamos para Nova Zelândia.

Eu sabia que uma gravidez depois de Ashermans não seria fácil. Tantas coisas podem acontecer de errado, como por exemplo, incompetência cervical, ou problemas com nutrição via placenta e consequente desenvolvimento do bebê. Foi assustador, mas eu tentei controlar minha ansiedade lendo muito a respeito de tudo que poderia acontecer. Eu pedi um encaminhamento ao meu especialista de Ashermans, para um bom obstetra na Nova Zelândia. Desta vez, eu consegui receber ótimo tratamento, com um grupo de especialistas acompanhando minha gravidez. Também mantive contato via email com meu especialista em Ashermans, e sempre que em dúvida consultei-o a respeito de questões relativas a gravidez pós Ashermans.

Durante a gravidez fiz muitos ultrasons. Tive consultas médicas semanais para acompanhar o desenvolvimento do meu bebê. Por conta do número de cirurgias (7 em um ano) decidimos colocar uma cerclagem preventiva. Eu havia lido sobre tantos casos de imcompetência cervical, e perdas de gravidez em segundo ou terceiro trimestre em casos pós Ashermans. Eu não queria arriscar perder outro bebê. A cerclagem em sí, também envolvia riscos, mas decidimos por fazê-la assim mesmo, pois eu me sentiria bem mais tranquila. Foi feita na 15a semana. Não tive infecção e a partir da cerclagem minha gravidez foi perfeita. Fui aconselhada a evitar exercícios e não me distanciar muito do hospital. Na 37a semana o bebê estava ainda sentado, e então decidui-se por uma Cesárea. Mas na minha consulta 1 dia antes da cirugia um ultrasom mostrou que o bebê havia virado. Mesmo assim, meus médicos me aconselharam a prosseguir com a Cesárea. Meu bebê nasceu em Novembro de 2003 na 38a semana. Tive 2 médicos presentes na sala de parto, mas felizmente nenhuma complicação. Meu meninho nasceu perfeito, a placenta descolou inteira desta vez. Meu marido e eu ficamos tão felizes e aliviados.

Depois de amamentar meu bebê por 7 meses, eu finalmente recuperei minha menstruação. Atualmente ela vem todo mês, embora em volume bem menor do que o período pré Ashermans.

Eu ainda me vejo muitas vezes triste quando eu conto a alguém detalhes da minha história. Perder meus bebês e passar por todo o pesadelo de Ashermans foi uma experiência muito difícil para meu marido e para mim. Mas tudo isso tornou nosso relacionamento mais forte, e hoje me sinto uma pessoa melhor. Eu aprendi a ser mais forte, a ouvir meu corpo, e a acreditar em meus sentimentos quando suspeito que alguma coisa possa estar errada. Aprendi a questionar e a verbalizar o que eu quero e o que eu mereço receber de médicos. Quando olho para meu filhinho, eu sei que tenho sorte em ter este ser tão perfeito olhando e sorrindo para mim. Embora eu não seja religiosa, considero-o um pequeno milagre. Ele é certamente muito especial!

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International Ashermans Association

This book is dedicated to telling stories of women who were given no hope by their doctors but ended up with babies. 

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